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História da circulação extracorpórea

O Dr. Paulo Prates apresentou na segunda-feira (25/06) uma retrospectiva da história da circulação extracorpórea e da cirurgia cardíaca como um todo. O médico iniciou o encontro afirmando que a história da medicina é uma das mais encantadoras do mundo. “Não existe história com mais beleza e dedicação ao próximo como a da medicina. A arte médica vem da necessidade do profissional de aliviar o sofrimento dos seus semelhantes. Sua fonte está no altruísmo”, afirmou Dr. Prates. E das histórias da medicina, uma das mais lindas é a da cirurgia cardíaca.

Isso porque o coração sempre foi um órgão que inspirou respeito. Considerado o centro da vida, era cercado de misticismo, sendo até hoje usado em metáforas para a alma e o amor. Segundo Dr. Prates, este aspecto místico acabou atrasando um pouco o desenvolvimento da cirurgia cardíaca. “Apesar de já conhecer desde a idade da pedra lascada a localização aproximada e a importância deste órgão para a vida dos animais, o homem só abordou cirurgicamente o coração humano em 1896, quando realizou-se a primeira sutura de ferimento cardíaco. Antes disso já haviam realizado cirurgias de abdômen e crânio”, afirmou.

A consolidação da cirurgia cardíaca começou em 1938, quando Dr. Robert Gross fez pela primeira vez a ligadura de um canal arterial. Ele, que era residente, também criou a técnica do poço para consertar defeito do septo arterial.

A presença feminina na medicina tem na doutora Helen Taussing uma importante figura. Portadora de deficiência auditiva, ela dedicou-se à cardiologia e ao cuidado com crianças, descobrindo o sopro no canal arterial dos chamados “blue babies, que causava morte quando acontecia a interrupção do canal. Juntamente com o Dr. Alfredo Blalock, criou a cirurgia da anastomose da artéria subclávia no ramo da artéria pulmonar denominada Cirurgia de Blalock-Taussing. Uma figura curiosa desta história é a do Dr. Vivien Thomas, um brilhante técnico negro que, por causa do racismo, nunca teve destaque na medicina. Era ele quem dava conselhos técnicos ao Dr. Blalock durante as cirurgias que realizava. A história dos dois está registrada no filme “Quase Deuses”, de 2004.

A primeira tentativa de cirurgia com circulação extracorpórea ocorreu em 1938. O criador da primeira máquina que bombeava o sangue fora do corpo foi o Dr. Alexis Carrel, que nunca foi utilizada. Em 1951 o Dr. Clarence Dennis modificou a máquina e, em 1953 o Dr. John Gibbon Jr. fez modificações para eliminar as bolhas de ar do sangue, um desagradável resultado da circulação extra-corpórea que podia causar embolia nos pacientes. A partir de então, diversas cirurgias foram realizadas com sucesso, utilizando o aparelho.

Um ano depois, o Dr. Clarence Lillehei desenvolveu a circulação cruzada entre pacientes. Na época, o Dr. Lillehei disse que a máquina desenvolvida pelo Dr. Gibbon era muito grande e pouco prática. A circulação cruzada era uma técnica que onde a circulação de uma pessoa era temporariamente utilizada para manter vivo um paciente durante a cirurgia de reparo de uma cardiopatia. Apesar das críticas de cirurgiões da época (essa proposta cirúrgica era a primeira em toda a história da cirurgia com o potencial risco de 200% de mortalidade), o insucesso de todos os outros centros no mundo que trabalhavam ativamente na confecção da máquina coração-pulmão tornou inevitável a continuação de seus estudos. Em 1955, o Dr. Lillehei publicou o relato de 32 pacientes operados com sua técnica de circulação cruzada controlada. Com o desenvolvimento dos oxigenadores de bolhas, a técnica da circulação cruzada foi abandonada após a sua utilização em 45 pacientes no período entre 1954 e 1955.

No final de 1956 muitas universidades já estavam integradas ao programa de cirurgia cardíaca. Atualmente, se estima que mais de 500.000 cirurgias cardíacas sejam realizadas no mundo todo ano com o auxílio da circulação extra-corpórea. Na maioria dos casos a mortalidade é relativamente baixa, aproximando-se de 1% para algumas cirurgias. O Dr. Prates encerrou o encontro dizendo que o Oxigenador de Discos de Kay foi a primeira máquina de circulação extra-corpórea utilizada em Porto Alegre. A primeira cirurgia com este recurso realizada no Estado foi em 1962, pelo Dr. Cid Nogueira.

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